Ministros de Cristo
Entendendo a grandeza do servir
SP, 22/02/11
I Coríntios 4:1
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo...”
Após um longo período de resistência de nossa parte, enfim, nos submetemos ao chamado pastoral para o qual fomos devidamente ordenados em Concílio Consagratório, organizado pela Ordem dos Pastores na Obra da Restauração no Estado de São Paulo, na Igreja em São Miguel Paulista – São Paulo. Não sem antes aquela certeza interior, que de Deus procede, de que era esta Sua vontade incontestável para a nossa vida, a qual foi acompanhada de suficientes evidências e, devidamente confirmada pela Igreja.
Refletindo sobre o ministério pastoral para o qual não nos apressamos (Jr 17.16), deliberamos dirimir algumas distorções acerca do mesmo. Não pretendemos e nem temos competência para esgotar o referido assunto, submetendo nossa exposição à critica e aprimoramento daqueles que tem, da parte de Deus, mais luz para fazê-lo.
O apóstolo Paulo, instigado pelos problemas da Igreja em Corinto e, em resposta a uma carta deles recebida (I Co 7.1), procura atacar cada problema na medida em que toma conhecimento dos mesmos. Um dos problemas, causa das divisões na igreja de Corinto, tratava-se, justamente, da má interpretação acerca do ministério (I Co 3.5 – 4.5).
Nos versículos anteriores ao capítulo quatro, Paulo, de forma introdutória, entre outras coisas fala sobre:
No capítulo quatro, Paulo, dando continuidade à sua linha de raciocínio exposta nos versos anteriores, procura apresentar uma concepção correta sobre os “Ministros de Cristo” (4.1).
“Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo...” (ARA)
A menos que atentemos para o sentido etimológico do termo “ministro”, ficaremos aquém do entendimento correto sobre o ponto de vista, a partir da ótica bíblica, sobre quem é o ministro e qual deve ser a sua forma de atuação.
Evidentemente, devemos considerar que o uso do termo não é de domínio exclusivo das igrejas evangélicas quando denominam seus pastores de, justa e respeitosamente, “Ministros da Palavra” ou “Ministros do Evangelho”.
No meio político secular brasileiro, por exemplo, o ministro é um membro do Poder Executivo, geralmente nomeado pelo Presidente da República, por ocasião do início de seu mandato. A pessoa do ministro é caracterizada, antes de mais nada, pela vocação para a política e a presunção de que possua larga experiência na sua área de atuação (saúde, justiça, fazenda, etc.), e tenha ocupado, anteriormente, cargos relevantes no governo.
Nesta conjuntura, a posição de ministro denota um sentido de importância e eminência. Certamente, por força do cargo, será respeitado, admirado, temido e até invejado. Trata-se de uma honra por demais elevada e, não é incomum ver-se ministros mais poderosos ou influentes que presidentes e reis.
A julgar pela posição política ocupada por um ministro, secularmente falando, parece paradoxal e impróprio o uso do mesmo termo pelo apóstolo Paulo, visto sua evidente intenção de combater o famigerado e pecaminoso orgulho dos crentes coríntios - “Não é boa a vossa jactância.” (I Co 5.6). Devemos considerar, todavia, que Paulo usou um termo grego para gregos. De forma que, eles sabiam exatamente o que Paulo queria dizer.
Se considerarmos a questão a partir da ótica de Jesus (e obrigatoriamente devemos fazê-lo), perceberemos estarmos caminhando na contramão do sistema humano vigente. Ouça isto: “... Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve.” - Lc 22.25,26 - (grifo nosso).
Todo o sistema de governo do mundo tem a sua pedra de toque na palavra “sobre”. Estar “sobre” as demais pessoas faz toda a diferença e define, de forma clara, quem é quem no jogo do poder. Os ricos dominam “sobre” os pobres, os fortes “sobre” os fracos, os inteligentes “sobre” os ignorantes e, assim por diante.
Jesus, a partir de seu próprio exemplo, define a ótica divina sobre liderança, determinando que: “liderar é servir” (Lc 22.26).
Vejamos então o sentido etimológico da palavra “ministro”.
A palavra ministro vem do latim minus, menor. Antigamente, o ministro era um simples criado. Aquele que executava as tarefas menores na casa de seu senhor.
Não é sem razão, por tanto, que os pastores são, também, chamados ministros.
Na mesma linha de pensamento (e não poderia ser do contrário), Paulo conceitua o ministro como um servo, todavia, o termo utilizado em I Coríntios 4.1, no original grego é “huperetas”. Literalmente significa "remador-subordinado", alguém inteiramente submisso à vontade de outrem ("huperetas Christós" = ministros de Cristo). Tratava-se de um escravo condenado à morte, cuja única função era remar no porão mais inferior dos grandes navios romanos, do tipo trireme.
Vejamos as principais características de uma trireme:
A Galera do tipo Trireme, apareceu no século V Antes de Cristo e foi utilizada pelos Gregos e, posteriormente, pelos romanos.
A Trireme caracterizava-se por três fileiras de remos, em que cada remo era movido por um remador. Os remadores estavam escalonados e colocados de forma a que o seu movimento não impedisse o do remador mais próximo de manusear o remo. Os remos tinham entre
Embora as Triremes tivessem várias configurações e não fossem naturalmente todas iguais, podemos considerar que o tipo mais comum tinha cerca de 200 pessoas. Dessas, 170 eram tripulação e, os restantes 30, faziam parte da guarnição.
A Trireme grega era especialmente utilizada para abalroar navios inimigos tentando, posteriormente, fazer marcha à ré. Assim, afundava-se o navio e passava-se ao navio seguinte.
A aproximação romana ao problema parece ter sido diferente, porque os romanos pretendiam não necessariamente destruir o navio inimigo, mas sim capturá-lo. Por isso desenvolveram sistemas que permitiam e facilitavam a abordagem.
Por essa razão as Triremes romanas muitas vezes tinham uma maior guarnição (até 100 homens) que os navios gregos que estavam reduzidos a um pequeno número de 30 homens a bordo.
Galera trireme romana
(sobre a trireme, fonte: https://www.areamilitar.net/DIRECTORIO/nav.aspx?nn=98- em21/02/11- às 22:10H)
A partir do entendimento do que era um huperetas e no que consistia sua função na trireme, percebemos exatamente que tipo de recado Paulo pretendia dar aos crentes da igreja em Corinto, visto a arrogância e orgulho dos mesmos não condizer, exatamente, com a figura do huperetas. Ouça as palavras de Paulo, ainda no mesmo capítulo quatro da primeira carta, quando denuncia a arrogância e orgulho daqueles cristãos:
Ao iniciar o dito capítulo com ênfase no termo em questão, Paulo procura colocar o obreiro no seu devido lugar, ou seja, naquele determinado por Jesus em Lucas 22.26: “... o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve.”
Da mesma forma, de acordo com tal princípio, não é condizente, o que é bastante comum nos dias modernos, porém, não se trata de nenhuma novidade, a postura de “ministros” que pretendem exercer domínio sobre o povo de Deus (I Pe 5.2,3).
Em que pese a posição de serviçal, subordinado e escravo do remador (huperetas-ministro), outras considerações devem ser feitas a respeito do mesmo:
Para cada ponto anteriormente apresentado faremos algumas breves e importantes observações correlacionadas (compare os pontos entre si).
Em face do exposto, concluímos com a reflexão de que os verdadeiros ministros estão entre aquela classe especial de pessoas que atravessarão os portais da eternidade sob os aplausos de Deus. O Supremo Galardoador, esboçando na face um sorriso de satisfação, lhes dirá: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor.” - Mt 25.21 - (grifo nosso).
Servir bem aqui, para servir melhor lá. Aleluias!!!
No propósito de servir e edificar, seu conservo
Pr. Reinaldo Ferreira
Ministro da Igreja em São Miguel Paulista na Obra da Restauração
Bacharel em Direito